Olhando pelo retrovisor
Já quase no final da viagem você olha pelo retrovisor. E o que você pode ver? Você pode ver o caminho pelo qual passou. Você pode contemplar o percurso que percorreu. Você pode ter, através do retrovisor, uma perspectiva do trajeto que o trouxe até este ponto no qual você se encontra.
É assim que estou olhando o Evangelho de Mateus. Estou vendo o Evangelho através do seu retrovisor. A partir do seu ponto de chegada. Desde o seu final. Desde as palavras finais do Jesus ressurreto aos seus discípulos, segundo a versão de Mateus.
Tem mais lugar aqui no banco da frente. Você quer olhar o retrovisor do Evangelho comigo? É um convite sim. Seja bem vindo.
Olhe só, cada frase, expressão ou palavra de Mateus 28.18-20 nos remete, de forma retrospectiva, ao ministério de Jesus. Caso tenhamos nossa atenção focada nelas, poderemos percorrer, de forma inversa, os caminhos trilhados por Mateus ao registrar o ministério de Jesus.
O retrovisor – Mateus 28.18-20
Verso 18a. Então Jesus tomou a iniciativa de aproximar-se (dos onze discípulos) para conversar com eles, dizendo:
Jesus sempre toma a iniciativa em relação aos seus discípulos. É a isso que nos remete a frase acima. A iniciativa do Mestre sempre exige uma resposta.
É lá no distante início do seu ministério que Jesus toma a iniciativa de se aproximar dos pescadores: Pedro, André, João e Tiago. (Mateus 4.18-22). A proximidade de Jesus é uma proximidade desafiadora: Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens. Eles imediatamente o seguiram.
A proximidade do Nazareno de Mateus encontra a mesma ressonância. Ele diz ao coletor de impostos: Segue-me. E Levi se levantou e o seguiu. (Mateus 9.9). Um exemplo mais. Ao chamar os doze apóstolos, o Mestre os escolhe para uma proximidade maior. Para uma proximidade missionária, pois Ele os envia com a mesma tarefa que Ele tem: ensinar, pregar e curar (Mateus 10.1ss).
Jesus toma a iniciativa de se aproximar de nós a fim de nos tornar seus discípulos e discípulas. Ele nos chama para o seguimento, para uma tarefa, para uma missão.
Verso 18b. Toda a autoridade me foi dada no céu e também na terra.
Pelo retrovisor do Evangelho de Mateus somos transportados para um momento decisivo na vida de Jesus. Ao final do Sermão do Monte as multidões estão maravilhadas porque o Mestre ensina como quem tem autoridade e não como os escribas. (Mateus 7.28-29).
Digo que esse é um momento decisivo, pois é o final das primeiras instruções aos discípulos iniciadas no capítulo 5. Entendo ser esse um momento crucial, porque a multidão, e certamente os discípulos também, faz a distinção muito clara entre o ensino de Jesus e o ensino dos escribas. Eles dizem: ensina como quem tem autoridade e não como os escribas.
Em outro momento decisivo, agora para os discípulos, o Galileu transmite esta autoridade que tem para os seus seguidores. Ao enviar os doze em missão “deu-lhes Jesus autoridade.” (Mateus 10.1).
A autoridade que Jesus recebe é compartilhada com todos os seus seguidores, conosco inclusive. Ao se aproximar de nós e nos comissionar, nosso Senhor nos reveste de autoridade. Nós vamos como embaixadores e embaixatrizes revestidos todos de autoridade de quem no envia. Temos nossas credenciais, não vamos em nosso próprio nome.
Verso 19a. Em face desta autoridade, vocês, indo de um lugar a outro,
De olho no retrovisor, você pode ver tão bem quanto eu, que a tarefa de ir é seguir o curso natural da nossa vida. A expressão “indo de um lugar a outro” revela a vida cotidiana das pessoas. É certo que pescadores, publicanos e outros deixaram o curso natural de suas vidas para seguirem a Jesus. Mas todos nós sabemos que esse fato se constitui exceção e não regra. Regra geral, os discípulos continuaram a viver suas vidas, agora transformadas por Jesus.
Lá atrás, no Evangelho de Mateus, o Mestre havia instruído os doze com as mesmas palavras: “a medida que seguirdes (indo) pregai que está próximo o Reino dos Céus.” (Mateus 10.7).
Nossa tarefa não exige que deixemos o curso natural de nossas vidas. Deixe isso para Pastores e Missionários. Quanto a nós, Jesus quer que realizemos a missão dentro da nossa vida cotidiana. Enquanto vamos vivendo, vamos fazendo a missão.
Verso 19b. façam com que todas as gentes aprendam a serem minhas seguidoras,
Poucas indicações de “fazer discípulo” (aprender a ser seguidora) aparecem no espelho retrovisor de Mateus. Ao olhar com atenção, nós podemos localizar apenas duas outras ocorrências da palavra “fazer discípulo” (aprender a ser seguidora). Uma em Mateus 13.52, se referindo a um escriba feito discípulo do Reino dos Céus. E outra em Mateus 27.57, fazendo menção ao fato de que José de Arimatéia “foi feito discípulo de Jesus”.
A terceira vez, das quatro vezes que o verbo “fazer discípulo” (aprender a ser seguidora) aparece na Bíblia, é o texto que está nos servindo de estudo. Eu acho que tal escassez desse verbo sugere que devamos olhar para o processo de se fazer discípulo e não para o termo em si.
Sendo assim, o Evangelho quer mostrar casos concretos de pessoas que aprenderam a ser seguidoras de Jesus. Lembro, aqui, do caso de Pedro: de pescador a pescador de homens, passando pelo processo de aprendizagem de ser seguidor de Jesus. Esse processo inclui: seguir Jesus (Mateus 4.18-20 e 19.27); fazer missão na prática (Mateus 10.1ss); confissão de fé – És o Cristo (Mateus 16.16); enfrentamentos com Jesus – Arreda, satanás! (Mateus 16.22-23); intimidade com o Mestre – transfiguração (Mateus 17.1ss); disposição para morrer com Jesus (Mateus 26.35); negação (Mateus 26.75); e envio em missão (Mateus 28.18-20).
Fomos comissionados para ensinar pessoas a serem seguidoras de Jesus. E isso exige tempo, convívio, relacionamento e tudo o que é necessário para que a pessoa tenha tempo de amadurecer como seguidora do Mestre Galileu.
Verso 19c. batizando-as em o nome (autoridade) do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Pelo retrovisor somos levados às cenas iniciais do Evangelho de Mateus. É lá, bem no início, antes de Jesus começar o seu ministério, que O vemos ser batizado por João Batista. Mateus 3.13-17 registra a presença do Filho, do Espírito Santo e do Pai como que selando com autoridade o início do ministério público de Jesus.
Somente aqui no final e lá no começo do Evangelho é que temos a menção de batismo. Apesar disso, não resta dúvidas quanto à prática do batismo como um selo distintivo dos seguidores e seguidoras de Jesus.
O tríplice nome é a marca que nós devemos deixar sobre os discípulos de Jesus para identifica-los em meio à multidão.
Verso 20a. Ensinando-as a ter cuidado de todas as coisas que lhes tenho ordenado.
O retrovisor nos permite ver que os ensinos de Jesus ocupam grande parte do Evangelho de Mateus. E ensinar aparece como uma importante e intensa atividade do Mestre.
Não é sem propósito que Mateus registra em todas as cinco partes nas quais dividiu seu Evangelho, o trio “ensinar-pregar-curar”. Ele faz referência direta ao trabalho de Jesus com essas três palavras.
Com isso, creio que o Evangelista quer abarcar “todas as coisas que Jesus tem ordenado”. Mateus usa essas três palavras em momentos cruciais do seu Evangelho. Por exemplo: no início do ministério de Jesus (Mateus 4.23); antes de chamar os doze (Mateus 9.35); após a missão dos doze (Mateus 11.1-6) e assim por diante.
Tenho para mim, que a principal tarefa do “fazer discípulos” é o ensino. Ensino no sentido de processo de aprendizagem. E processo requer método. Mas não somente método requer conteúdo, sobretudo. Pois, se não sabemos “todas as coisas que Jesus tem ordenado”, como podemos ensinar essas coisas a outros?!
Verso 20b. E eis aqui estou eu entre vocês todos os dias até o fim dos tempos.
Essas são as derradeiras palavras de Jesus no Evangelho segundo Mateus. E elas têm o poder de tirar nossos olhos do retrovisor e nos fazer olhar para frente.
A presença do Senhor conosco nos dá a direção a seguir. Ela nos dá o sentido no qual devemos prosseguir. Sua presença nos dá o motivo de irmos adiante. A presença de Jesus nos dá, finalmente, a companhia nesta longa jornada de “fazer discípulos” até os confins da terra e até o fim dos tempos.
De olho na estrada
Claro está, para todos nós, que o final do Evangelho de Mateus não é o fim da linha nem o ponto de chegada. Mas o início e o ponto de partida para a missão da Igreja.
É a partir daqui que devemos prosseguir. Aqui é o ponto de transição entre o ministério de Jesus e sua continuidade em nós, seus discípulos e discípulas.
Portanto, ....
Agora é com vocês!
Ok! Está feito! É hora de ir. É o momento da despedida. Eu vou embora, chegou a minha hora. Meu trabalho está concluído. Já recebi toda a autoridade sobre céu e terra. E eis a minha última palavra para vocês, os onze que permaneceram comigo desde o início. Era apenas isso o que me faltava fazer para poder ir tranquilo. Este é meu último ato estando ainda presente entre vocês. Meu mandato final é: Ide!
Vocês me ouviram: Eu envio vocês com base na autoridade que recebi. Quando forem de um lugar a outro, vivendo o dia a dia, conduzindo a vocês mesmos no estilo de vida que deixei, mostrem a todas as gentes, nações, etnias, raças, povos e pessoas como elas devem aprender a serem minhas seguidoras, apegadas à proposta do Evangelho e se conduzindo de modo condizente à prática do Reino de Deus. Comprometam-nas na autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Vocês devem ser facilitadores ao ensiná-las, mentoreá-las, aconselhá-las a ter cuidado, a guardar, a observar atentamente, a tomar nota de forma abrangente de tudo o que eu tenho ordenado, falado, ensinado, comissionado a vocês. E vocês lembrem-se bem, eu vou embora, mas estarei junto com vocês o tempo todo, todos os dias, até o fim. Bom trabalho! Agora é com vocês!
Essa é uma maneira bastante coloquial de ler o final do Evangelho de Mateus (28.18-20). Se você prefere que se leia de um jeito mais formal, podemos fazer isso:
18. Então Jesus tomou a iniciativa de aproximar-se (dos onze discípulos) para conversar com eles, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e também na terra. 19. Em face desta autoridade, vocês, indo de um lugar a outro, façam com que todas as gentes aprendam a serem minhas seguidoras, batizando-as em o nome (autoridade) do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. 20. Ensinando-as a ter cuidado de todas as coisas que lhes tenho ordenado. E eis aqui estou eu entre vocês todos os dias até o fim dos tempos.
O vídeo complementar ao texto você pode assistir no meu Canal do Youtube. Click aqui.